Entre médicos e recordações
Como já tinha aqui referido andava doente, apesar de na 4ª feira ter começado a tomar um antibiótico em vez de ir melhorando, à medida que os dias foram passando eu piorava...hoje acordei com tantas dores que até chorava, sentia as minhas amígdalas tão inchadas que me doía falar, era impossível beber água porque me doía horrores a engolir, os meus ouvidos pareciam que iam rebentar...toda eu estava um caco! Senti-me como se fosse uma criança outra vez, completamente impotente e num estado de sofrimento tal que só pedia aos meus pais para me levarem ao médico.
O meu pai teve de ir trabalhar, mas a minha mãe como só ia dar aulas à tarde esteve a tratar de mim, ligou para o nosso médico mas ele tinha o telemóvel desligado, então tentou ligar para outro só que tivemos o mesmo azar e também estava desligado... Entretanto a minha querida avó conseguiu arranjar outro número do doutor, falámos com ele e ainda senti-me mais descansada, porque ele disse-me para tomar outro antibiótico, mas ao mesmo tempo nervosa, porque pediu para a minha mãe ir à farmácia comprar uma injecção de penicilina...
Este médico tem várias particularidades (além de ser macaense): além de ter sido director do Hospital da Força Aérea, é professor convidado da Faculdade de Ciências Médicas e da Faculdade de Medicina de Lisboa. Apesar de já ser reformado continua a querer ajudar as pessoas, dando consultas em Lisboa e na Terrugem, onde tem um consultório amoroso, uma moradia pequena em que tanto as paredes da sala de espera como do consultório em si estão cobertas de quadros pintados por ele (pois é, além de doutor é artista!), mas não são os quadros quaisquer...ele até já chegou a tê-los em exposições! Já estão surpreendidos com esta incrível personagem? Há mais...também é escritor, já tendo publicado 3 livros: "Notas sobre a Arte Chinesa", "As elegias chinesas de Camilo Pessanha" e "Danilo no Teatro da Vida", um livro sobre a vida de seu pai. Normalmente os seus quadros têm ligação com a poesia, versando autores como Camilo Pessanha, Fernando Pessoa, Cesário Verde, entre outros.
Mas voltando ao meu dia...depois de me ver disse-me que a minha garganta realmente estava num estado terrível que até estranhava eu estar sem febre, quando finalmente me diz «deite-se lá na marquesa» fiquei com o coração acelaradíssimo só de imaginar a agulha que aí vinha, a minha avó perguntou se eu queria que ela me desse a mão, penso que estava a gozar, mas apesar de eu já ter 21 anos disse que sim...não gosto de seringas, nem a idade muda esse facto! Lá tentei relaxar, esta era a minha 4ª injecção de penicilina e por isso sabia muito bem que se tivesse com os músculos contraídos seria bem pior, a verdade é que mal senti a picada...doeu-me foi depois, quando senti o líquido a espalhar-se pela minha nádega, tanto que não me voltei a sentar.
Quando eu e a minha avó saímos e fomos ter com o avô à sala de espera ele tinha encontrado um novo amigo: um gato estava enroscadinho no seu colo! Como o meu avô adora gatos não queria sair dali, disse-nos que não podia ir para Lisboa connosco, mas lá acabou por acordar o pobre animal para irmos embora.
Entretanto esta ida ao médico em vez de ter sido maçadora para os meus avós penso que foi o contrário, porque encontraram amigos e ficaram o tempo todo de espera à conversa, para mim também foi interessante analisá-los...ali a falarem babados sobre cada família, a recordarem coisas do passado, a comentarem escolhas de vida... A viagem para Lisboa, apenas meia-hora, também se fez bem porque fomos à conversa, aí estive eu a lembrar-me de coisas da minha infância relacionadas com os meus avós: as tardes que passava em casa deles a estudar (com a avó eram as Línguas e História, com o avô Matemática e F.Química), a vez que se esqueceram de me irem buscar à escola (alegaram que foi para me tornarem mais rija), o facto de quando andava no Básico ir lá a casa todos os dias almoçar...como o tempo voa!
Ao chegarmos à capital o meu avô deixou-nos na farmácia e foi apanhar os gémeos ao colégio, enquanto isso eu e a minha avó, depois de termos os medicamentos necessários, fomos lanchar (obrigada pelo croissant!).
Quando cheguei a casa já cá estava a minha mummy pronta para me mimar, também me tinha comprado um croissant para o lanche (ficou para o pequeno-almoço de amanhã, para me dar energia para o exame), feito sopa para o jantar e comprado bombons de chocolate deliciosos. Como não se estuda na véspera e eu estava a precisar era de descansar, enroscámo-nos com mantas nos sofás e vimos um filme, com o qual nos fartámos de rir: «Horrible Bosses». Entretanto saíram as notas de Cumprimento das Obrigações (um exame que já tinha feito há 11 dias) e soube que tive 15, estando entre os 10 melhores alunos num total de 150.
Por isso apesar de ter sido um dia que começou muito mal, até terminou bem! E amanhã, se tudo correr bem, vou fazer o meu último exame e ficar de férias.
Comentários
Admiro não só como médico, mas tb como pessoa e artista, sendo a sua arte um testemunho e reflexo de outros artistas, como muito bem explicaste.Com ele conheci a parte da obra de Venceslau de Morais e com a mulher delícias da cozinha de Macau.
Com a rapidez nem reparaste que escreveste que pediste à tua avó para te dar a "Mãe", em vez de mão, mas tenho te sempre no meu coração e seguro-te a mão, tal como me imploravas, quando te deixava pequenina no Jardim Escola "Mãe, não largue a minha mão!" , o meu coração vertendo lagrimas, com a mágoa da separação temporária e eu sorrindo dizia "Sê feliz e boas aulas".
Valeu apena, hoje não és uma boa aluna, mas uma excelente aluna, já que consegues as notas que tens, mesmo estando a tirar Direito no sentido de te tornares um dia uma boa jornalista!
Parabéns, Princesa!Estou inchada de orgulho...ainda rebento:)
Obrigada! Isto de ter boas notas é porque saio à minha madrinha