Geração à rasca

Há uns dias o meu querido pai enviou-me um email com este conteúdo:

Da autoria duma jovem  de 61 anos (isso mesmo!)...
«Geração à rasca foi a minha. Foi uma geração que viveu num país vazio de
gente por causa da emigração e da guerra colonial, onde era proibido ser
diferente ou pensar que todos deveriam ter acesso à saúde, ao ensino e à
segurança social.

Uma Geração de opiniões censuradas a lápis azul. De mulheres com poucos
direitos, mas de homens cheios deles. De grávidas sem assistência e de
crianças analfabetas. A mortalidade infantil era de 44,9%. Hoje é de 3,6%.

Que viveu numa terra em que o casamento era para toda a vida, o divórcio
proibido, as uniões de facto eram pecado e filhos sem casar uma desonra.
Hoje, o conceito de família mudou. Há casados, recasados, em união de facto,
casais homossexuais, monoparentais, sem filhos por opção, mães solteiras
porque sim, pais biológicos, etc.

A mulher era, perante a lei, inferior. A sociedade subjugava-a ao marido, o
chefe de família, que tinha o direito de não autorizar a sua saída do país e
que podia, sem permissão, ler-lhe a correspondência.

Os televisores daquele tempo eram a preto e branco, uns autênticos caixotes,
em que se colocava um filtro colorido, no sentido de obter melhores imagens,
mas apenas se conseguia transformar os locutores em "Zombies" desfocados.

Hoje, existem plasmas, LCD ou Tv com LEDs, que custam uma pipa de massa.
Na rádio ouviam-se apenas 3 estações,  a oficial Emissora Nacional, a
católica Rádio Renascença e o inovador Rádio Clube Português. Não tínhamos
os Gato Fedorento, só ouvíamos Os Parodiantes de Lisboa, os humoristas da
época.

Havia serões para trabalhadores todos os sábados, na Emissora Nacional,
agora há o Toni Carreira e o filho que enchem pavilhões quase todos os
meses. A Lady Gaga vem cantar a Portugal e o Pavilhão Atlântico fica a
abarrotar. Os U2, deram um concerto em Coimbra em 2010, e UM ANO antes os
bilhetes esgotaram.

As Docas eram para estivadores, e o Cais do Sodré para marujos. Hoje são
para o JET 7, que consome diariamente grandes quantidades de bebidas, e não
só...

O Bairro Alto, era para a malta ir às meninas, e para os boémios. Éramos a
geração das tascas, do vinho tinto, das casas do fado e das boites de fama
duvidosa. Discotecas eram lojas que vendiam discos, como a Valentim de
Carvalho, a Vadeca ou a Sasseti.

As Redes Sociais chamavam-se Aerogramas, cartas que na nossa juventude
enviávamos lá da guerra aos pais, noivas, namoradas, madrinhas de guerra, ou
amigos que estavam por cá.

Agora vivem na Internet, da socialização do Facebook, de SMS e E-Mails
cheios de "k" e vazios de conteúdo.

As viagens Low-Cost na nossa Geração eram feitas em Fiat 600, ou então nas
viagens para as antigas colónias para combater o "inimigo".

Quem não se lembra dos celebres Niassa, do Timor, do Quanza, do Índia entre
outros, tenebrosos navios em que, quando embarcávamos, só tínhamos uma
certeza... ...a viagem de ida.

Quer a viagem fosse para Angola, Moçambique ou Guiné, esses eram os nossos
cruzeiros.
Ginásios? Só nas coletividades. Os SPAS chamavam-se Termas e só serviam
doentes.

Coca-Cola e Pepsi, eram proibidas, o "Botas", como era conhecido o Salazar,
não nos deixava beber esses líquidos. Bebíamos, laranjada, gasosa e
pirolito.

Recordo que na minha geração o País, tal como as fotografias, era a preto e
branco.
A minha geração sim, viveu à rasca. Quantas vezes o meu almoço era uma peça
de fruta (quando havia), e a sopa que davam na escola. E, ao jantar, uma
lata de conserva com umas batatas cozidas, dava para 5 pessoas.

Na escola, quando terminei o 7ºano do Liceu, recebi um beijo dos meus pais,
o que me agradou imenso, pois não tinham mais nada para me dar. Hoje vão
comemorar os fins dos cursos, para fora do país, em grupos organizados, para
comemorar, tudo pago pelos paizinhos.

Têm brutos carros, Ipad's, Iphones, PC's, .... E tudo em quantidade. Pago
pela geração que hoje tem a culpa de tudo!!!
Tiram cursos só para ter diploma. Só querem trabalhar começando por cima.
Afinal qual é a geração à rasca...???»


Comentários

Sofia Amaral M. disse…
Eu estou no meio das duas gerações, filha da de cima, mãe da que se diz actualmente à rasca, mas...nem a minha filha se inclui no grupo, nem nunca ouvi os meus pais a lamentarem-se. Tudo isto é verdade mas da minha infância tenho muito boas recordações em família, em frente à televisão a preto e branco, a ouvir música e dançar em cima dos pés do meu pai ao som do giradiscos, brincadeiras no jardim com um grande grupo de crianças ( a nossa escolha era sempre a rua!) e também vivi em África...e podia continuar mas...não tenho tempo:( fica para outro dia!

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